sexta-feira, 3 de novembro de 2006

É urgente a criação de "pólos de competitividade" no Vale do Tejo

Não chega, hoje, fazer bem o que tradicionalmente já fazíamos. No actual contexto de um mercado global e potencialmente competitivo, importa, antes na escolha das estratégias de desenvolvimento empresarial, privilegiar os processos produtivos baseados na inovação tecnológica de base científica. Daí que, cada vez mais as regiões, face aos novos desafios da mobilidade e da competitividade inter-regional, procurem nos seus territórios identificar e consolidar novas vantagens relativas que lhes garantam acrescidas competitividades, atraiam e potenciem novos investimentos e que, por sua vez, cativem actividades de maior valor acrescentado. É assim que, em certa medida, no seguimento dos conhecidos Pólos de Crescimento de F. Perroux, têm ultimamente surgido, particularmente em França, os apelidados “Pólos de Competitividade”, com a dupla finalidade de promover uma nova dinâmica industrial alicerçada num desenvolvimento regional competitivo, e simultaneamente introduzir uma dinâmica de desconcentração territorial das actividades produtivas com maior especialização. Programaticamente, um Pólo de Competitividade pode ser considerado como a articulação num território, de empresas, centros de formação e unidades de investigação empenhadas na dinamização de uma parceria capaz de potenciar sinergias em redor de projectos comuns com carácter inovador e dispondo de massa crítica necessária à obtenção de visibilidade internacional. Ou seja, uma das bases essenciais destes Pólos, assenta nas sinergias a desenvolver entre os diversos agentes de desenvolvimento locais, especialmente nas parcerias público/privadas que lhes estão subjacentes, nomeadamente entre o Estado, Municípios, Associações Empresariais, Universidades e Centros de Investigação. O Vale do Tejo, constitui uma das regiões portuguesas onde se têm verificado algumas experiências bem sucedidas de parcerias deste tipo, se bem que, por vezes, sem a profundidade e continuidade necessárias. Por essa razão, reconhecendo-se a inegável apetência organizacional da região, valerá a pena encetar novas experiências de parcerias, não tanto já na concretização de projectos pontuais, mas sim em investimentos tecnológicos de perfil mais ambicioso e com forte incidência regional. Dentro desta estratégia, e tomando sobretudo como exemplo o caso francês, julgamos que a criação de pólos territoriais de competitividade, de carácter tecnológico ou industrial, tendo em conta as vocações, as vantagens relativas do Vale do Tejo, e fundamentalmente, explorando os seus clusters de maior valor acrescentado e de acrescidas competitividades, deve constituir uma nova e estimulante ambição para os agentes de desenvolvimento da região. Importa não perder de vista, que no novo contexto do mercado global, as potencialidades de uma região ganham uma dimensão acrescida, quando se equacionam questões como a competitividade e o emprego. Daí, ser cada vez mais necessário a especialização de um território em torno de determinadas actividades de acordo com as suas características próprias. No caso do Vale do Tejo é sobejamente conhecido que esta região dispõe de invejáveis recursos hídricos, de solos de elevada qualidade, de uma densa mancha florestal, apresentando para lá de um elevado potencial agrícola, condições muito favoráveis ao desenvolvimento de um competitivo sector agro-industrial. Perante este conjunto de vocações, recursos endógenos e vantagens locativas, poder-se-á facilmente prospectivar para o território do Vale do Tejo alguns pólos de competitividade baseados, particularmente, nas seguintes “âncoras de desenvolvimento”: · Criação de um Eixo Industrial que ligue os concelhos de Abrantes no Médio Tejo e Ponte de Sor no Alentejo, por forma a dar origem a um importante pólo industrial no centro do País, com base nas indústrias de fundição, do automóvel e da aeronáutica. A recente criação do Tagusvalley em Abrantes poderá constituir um importante equipamento para a consolidação deste pólo de competitividade. · Desenvolvimento de um importante pólo empresarial e de conhecimento, em torna da Enologia e das indústrias do vinho, num eixo agrícola “de excelência” formado pelos territórios dos municípios de Cartaxo, Santarém, Almeirim e Alpiarça. · Aposta no potencial turístico, alargando-o para além do turismo religioso, para novos segmentos, como o histórico-cultural centrado em Tomar e nos Templários, para o aproveitamento de Rotas temáticas (Vinho, Castelos, Cavalo, etc.), e para as novas formas de turismo em espaço rural. · Criação de um pólo de competitividade, agrupando agro industriais, Escola Superior Agrária, Escolas de Gestão, Centros Profissionais, Centro de Investigação Animal, Estação Zootécnica Nacional e outras entidades ligadas à actividade alimentar, numa mancha territorial englobando os concelhos de Rio Maior, Cartaxo, Santarém. Alpiarça e Almeirim. · Criação de um pólo de desenvolvimento agrícola no Vale do Sorraia, potenciando a vertente industrial, com base nas potencialidades de culturas de regadio, com especial destaque para o arroz, e para a requalificação e valorização da cortiça. Ou seja, e em síntese, se ambicionamos o Vale do Tejo como um território competitivo, mais qualificado, como uma “região de “excelência”, não se poderá mais ignorar que o aproveitamento dos seus “Clusters” interligados em Pólos de Competitividade, ocupa hoje um lugar preponderante e insubstituível, na interacção entre a política industrial, o nível de inovação tecnológica e uma política de desenvolvimento regional sustentável e integrado. Texto de Renato Vieira Campos