quinta-feira, 9 de março de 2006

OS PRIMEIROS DESAFIOS DA “MARCA RIBATEJO”

Num recente seminário realizado no Cartaxo a propósito da “Marca Ribatejo”, questionava a Vice Presidente do Nersant, Dra. Salomé Rafael, “o que é que o Ribatejo tem para vender”. De facto, trata-se de uma questão pertinente que, manda o bom senso, deve ser equacionada antes da discussão do modelo do marketing regional, já que vender ou promover o que não é competitivo ou regionalmente genuíno, será sempre um processo falhado de difícil reabilitação. Face à premência deste problema no contexto da inadiável promoção desta região, julga-se que, de uma vez por todas, os agentes de desenvolvimento do Vale do Tejo terão que se entender sobre a sua estratégia, tendo em conta o correcto equacionamento das suas potencialidades, quer naturais como geo estratégicas no contexto do ranking competitivo das regiões nacionais. Do mesmo modo, também não valerá a pena, como foi reivindicado no mesmo seminário, a elaboração de novos estudos estratégicos sobre a região tendo em vista uma pressuposta “Operação Integrada de Desenvolvimento”. Tudo já foi nos últimos anos exaustivamente estudado (talvez é certo pouco discutido pelos principais interessados!) como atestam, entre outros trabalhos, o “Plano Integrado de Desenvolvimento do Vale do Tejo” (PIDVT) e o “Survey da Inovação do Vale do Tejo”. Nestes estudos, encontram-se exaustivamente levantadas as potencialidades da região, os seus pontos negativos, as suas oportunidades e as respectivas estratégias de desenvolvimento, quer sectoriais como regionais. No caso do PIDVT, são mesmo propostas acções concretas, devidamente calendarizadas e financiadas. Pena é que muitos destes trabalhos, quando da sua conclusão, pouco entusiasmo tenham suscitado e tenham acabado, em muitos casos, por envelhecer numa estante de um qualquer Gabinete. Hoje, é conhecido que todas as regiões ambicionam níveis de competitividade e de diferenciação que as promovam no léxico nacional ou internacional, procurando os seus nichos de produtos ou de actividade que as distingam e lhes marque a diferença e lhes possibilite, fundamentalmente, um fluxo de rendimentos de uma forma continuada e sustentada. Por outro lado, também é assumido, que no actual quadro da integração e da competitividade inter regional, uma região só será forte e competitiva se, para além dos seus recursos próprios, tiver como agentes activos, entidades públicas, associativas e privadas, qualificadas, ágeis e disponíveis para cooperar em torno das modernas questões do desenvolvimento. Ou seja, o grau de dinamização colectiva de um território, dependerá, não só da capacidade interventiva dos seus actores, mas, principalmente, do seu empenho em torno de um processo de concertação estratégica. Por estas razões, é que no presente as regiões para sobreviverem e se afirmarem num contexto promocional, criando uma imagem aguerrida de marketing, necessitam cada vez mais de inovar e de descobrir novos factores de competitividade, baseados não só nos aspectos meramente económicos, mas, sobretudo na interacção e num entrosamento muito mais vasto entre o social, o histórico, o cultural. Nos tempos que correm, é inquestionável que o Ribatejo ( ou o vale do Tejo para alguns), em consequência dos recursos e das dinâmicas que soube agregar, constitui uma das regiões portuguesas com maiores e diversificadas potencialidades, aliadas a significativas oportunidades resultantes de uma localização geoestratégica favorável de proximidade aos centros de decisão e de consumo, constituindo, no contexto nacional, um importante e privilegiado eixo na inter ligação do Atlântico com a Europa. É neste território agrícola de excelência, com grandes aptidões no domínio agro industrial, espaço de desconcentração de actividades da Grande Lisboa, de penetração de corredores multimodais, industriais e logísticos, possuidor, também de uma identidade cultural, histórica, etnográfica, potenciadora de actividades turísticas e de lazer, que o Ribatejo – “Terra de Promissão e de Sonhos” no dizer do Prof. Jorge Gaspar - , deverá ser capaz de encontrar os seus “Clusters” regionais que lhe garantam ganhos de competitividade e suportem uma estratégia de desenvolvimento, alicerçada, então, num eficaz marketing regional. Actualmente, para além do “automóvel” e do “vinho” – estes já dois “clusters” reconhecidos a nível nacional mas ainda insuficientes para uma valorização sustentável do Vale do Tejo -, já é fácil identificar na região, um conjunto de actividades produtivas com maior grau de especialização, como são no Médio Tejo, os casos da madeira, do papel, do couro, da cerâmica, da metalurgia, e da indústria alimentar (azeites, figo, etc.), assim como, os frutícolas e agro alimentares, artigos de peles, agro químicos, alimentos compostos para animais, ou os ex libris como touro e o cavalo, na Lezíria do Tejo. Somos pois da opinião que, quando existir neste região, um léxico de produtos genuínos de qualidade e competitivos no contexto inter regional, integrados numa actividade turística complementar, explorando a ruralidade, a gastronomia, a etnografia, o património natural e histórico, alicerçado na riqueza de um vale do Tejo multifacetado, deverá então sim, ser concertada uma estratégia de marketing regional, promovendo os produtos e as especificidades do território, gerando as indispensáveis mais valias para um desenvolvimento sustentável da região. Nessa altura, e desejamos que seja muito em breve, será premente e justificável, o lançamento cuidadoso e profissional de uma “marca” promocional, que poderá ser apelidada “Ribatejo” para os mais saudosistas ou “Vale do Tejo” para os mais pragmáticos.
Renato Vieira Campos
Texto enviado por Nelson Baltazar