segunda-feira, 25 de agosto de 2008

O silêncio dos inocentes

Aguiar-Branco em artigo de opinião no Jornal de Negócios aborda o silêncio de Manuela MFL (MFL). Diz-nos o autor que aqueles que estão “preocupados com o silêncio são, em geral, os que menos desejam ouvi-la porque, como adversários políticos do PSD ou pessoais de MFL sabem bem do efeito das suas intervenções junto dos portugueses.” Invoca, ainda, que “confunde-se silêncio com critério” e que “MFL convoca (…) o estudo em desabono da superficialidade, a seriedade em contraponto à demagogia”.
Um reparo. Parece-me, para alguém com a qualidade política de Aguiar-Branco, redutor confinar os críticos do silêncio ao universo dos adversários pessoais e políticos de MFL. O discurso de que agora tudo seria diferente no PSD criou naturais expectativas de todos aqueles que acompanham a vida política sobre o que defenderia MFL para o país. Não estou certo que MFL possa ganhar o país com o mesmo "cheque em branco" com que ganhou o Partido.
Vamos aos factos. MFL fez dois intervalos no “voto de silêncio”. Um para criticar o pacote de obras públicas anunciado pelo Governo; o outro para exigir a demissão do Ministro da Administração Interna (MAI), como resposta à onda de criminalidade que tem marcado a agenda nacional desde o assalto/sequestro da agência do BES.
O primeiro intervalo foi um passo em falso. Diabolizar o investimento em infra-estruturas, particularmente alguns que MFL até aprovou numa escala maior (como era o caso do TGV) em Conselho de Ministros quando foi Ministra das Finanças de Durão Barroso, não foi um exercício de contraponto à demagogia como procura fundamentar Aguiar-Branco. Mais: não se pode ao mesmo tempo fazer de MFL uma fiel depositária do cavaquismo e ao mesmo tempo ser anticavaquista e, contrariando aquilo que foram os seus anos de Governo com Cavaco Silva, defender o ataque, sem critério, aos investimentos públicos. Sim, sem critério. Não ouvimos MFL dizer quais fazia e quais deixava de fazer. Refugiou-se na falta de estudos e esbarrou em todos os relatórios há muito publicados, alguns ainda do tempo em que foi Ministra.
O segundo intervalo foi, claramente, por reacção. MFL tinha conseguido, num primeiro momento, pelas pessoas que reuniu e pela imagem de estadista que lhe era reconhecida, posicionar o PSD no seu campo de (quase) sempre. Um Partido político responsável, que alterna com o PS as preferências dos portugueses para governar. Porventura, pela pressão a que está sujeita para se saber o que pensa sobre o quotidiano dos portugueses, surgiu o pedido de demissão do MAI. Se não foi um ponto final a esse caminho que no primeiro mês tentou trilhar, foi, pelo menos, um ponto e vírgula. Sucumbiu às tentações populistas. A meu ver é preocupante do ponto de vista político ver o PSD a disputar com o CDS-PP a exploração política dos assuntos de segurança interna.
O problema tem um fundo social, não policial. Tem razões profundas ao nível das políticas de ordenamento do território, de integração social, que a todos interpela e que a todos tem que comprometer. Fugir a esse compromisso é abdicar do sua quota parte de responsabilidade. É não querer fazer parte da solução e optar por "deixar correr o marfim". Esta é das áreas em que o consenso alargado sobre a forma de actuar tem que estar acima de questões político-partidárias. É válido hoje. Tem que ser válido num cenário político de governação diferente. Sobre esta matéria, e assumindo que não concordo com todas as posições de Mário Crespo, sugiro a leitura do seu artigo no JN.