quinta-feira, 20 de julho de 2006

À Conversa com Mário Zambujal

A iniciativa “À conversa com...” que teve como convidado Mário Zambujal, permitiu-me retirar duas conclusões: a primeira referente ao facto de existir público no nosso concelho interessado neste tipo de iniciativas de âmbito cultural que visam promover o debate, a reflexão, o conhecimento. Foram muitos aqueles que visitaram o excelente espaço comercial que a Livraria Camões oferece. Realço, neste ponto, o excelente acolhimento a esta iniciativa, proporcionado pelo Sr. António Simões, gerente deste espaço. Parece-me importante que este tipo de iniciativas, até agora centradas na Biblioteca Municipal, possam ser realizadas em espaços menos institucionais, mais informais. A promoção do livro e da leitura passa também pela realização deste tipo de parcerias. A segunda conclusão tem a ver com a personalidade escolhida. Mário Zambujal, que comemorou este ano o 70.º aniversário, transmitiu-nos parte da sua vasta experiência profissional em prol da cultura e do jornalismo português. Mas, mais do que isso, conquistou toda a plateia pela simpatia, pelo excelente comunicador que é, e, acima de tudo, pelo aquele sorriso cativante que se guarda dos tempos em que apresentava um programa desportivo na RTP1. Mário Zambujal apresentou o livro com que comemora os 70 anos, “Primeiro as Senhoras”, com sessão de autógrafos. Dados Biográficos de Mário Zambujal Autor de ficção, não leva esta actividade muito a sério, apesar dos dificilmente ignoráveis êxitos. Considera, por exemplo, o seu primeiro livro, Crónica dos Bons Malandros, "um trabalho de jornal que por acaso é ficção". Iniciou-se como jornalista profissional em A Bola, em 1961, e é apresentado como tal que, sem dúvida, melhor se sente. Costuma dizer que a história da sua vida se resume a anotar as etapas a partir dos jornais por onde passou. E foram muitos. Se tinha vinte e cinco anos quando entrou para A Bola, sete anos mais tarde ingressou no Diário de Lisboa, que deixou no ano seguinte (1968), trocando-o pelo Record, então dirigido por Artur Agostinho. Em 1970 entra para O Século, onde no 25 de Abril de 1974 era chefe de redacção; manteve-se nestas funções de chefia até meados de 75, altura em que assumiu a direcção do Mundo Desportivo ("fui-me embora para as Berlengas", segundo as suas palavras). A convite de Vítor Cunha Rego, transitou para chefe de Redacção do Diário de Notícias, após os acontecimentos do 25 de Novembro. O Sete, de que foi o primeiro director, foi a experiência seguinte, e depois o trabalho na televisão, integrando actualmente o quadro da RTP. Incursão muito notada igualmente na rádio, no programa "Pão com Manteiga" (de que foi co-autor dos textos posteriormente reunidos em livro). Assume igualmente a co-autoria de alguns textos de teatro de revista como "Não Batam Mais no Zézinho", "Isto É Maria Vitória" ou "Toma Lá Revista". Quanto aos seus livros de ficção, Crónica dos Bons Malandros (1980), que seria objecto de adaptação cinematográfica, é um percurso trágico-burlesco pelo mundo da marginalidade lisboeta, pela precaridade quotidiana dos vigaristas de pacotilha que sonham com "o grande golpe" que os arranque do pequeno submundo anónimo. Em Histórias do Fim da Rua, segundo livro de ficção editado três anos mais tarde, Mário Zambujal entrelaça histórias que têm a ver com a Rua de Trás, em demolição, sacrificada a um "progresso" protagonizado por especuladores imobiliários e, simultâneamente, por um casal - Nídia e Sérgio -, perfis muito característicos de uma perfeita dissolução, tanto no que diz respeito a uma geografia urbana como a uma relação sentimental com dez anos de vida. O seu terceiro livro, publicado outros três anos mais tarde, intitula-se À Noite Logo se Vê e retomou o sucesso do primeiro, distanciando-se do relativo silêncio votado ao anterior. Quanto ao argumento, é exposto de rompante, logo na página 4: "No tempo inteiro de quatro anos, quatro, não nasceu nenhuma criança, uma que fosse, menino ou menina, na aldeia do Roseiral" e Mino Miralva, narrador de muitas histórias, começa a investigar. De resto, o autor continua a considerar-se como um jornalista que escreve para se divertir, com um humor infantil, matreiro, marcado por uma linguagem ágil e cheia de um humor genuíno e fresco, e uma prosa despretensiosa e criadora de personagens que só por si constituem todo um universo ficcional: "O Cacildo Tavares, sacrificado repórter da velha guarda", ou o "imparável fura-vidas Jacinto Rebite" são exemplos que fazem do último romance de Mário Zambujal, como disse uma crítica conceituada, "a fantástica recuperação de um risco que andava por aí perdido". Principais Títulos Crónica dos Bons Malandros, (1980) Histórias do Fim da Rua (1983) À Noite Logo se Vê (1986) Os novos mistérios de Sintra (2005) Primeiro as Senhoras (2006)