quinta-feira, 23 de março de 2006

Dia Mundial do Teatro

A pensarmos nos apreciadores de Teatro do nosso Município, antecipamos as comemorações do Dia Mundial do Teatro (27 de Março, Segunda-feira). Assim, para amanhã, Sexta-feira, às 15 horas, teremos alunos e professores da Escola Secundária do Cartaxo (3 Euros) e para o próximo Sábado, pelas 21h30m (25 de Março de 2006) o espectáculo será destinado a todo o público (7 Euros). O espectáculo para estas comemorações, no Centro Cultural Município do Cartaxo, é o monólogo "O Umbigo de Régio" interpretado por Jorge Sequerra. “O Umbigo de Régio” é um monólogo com aproximadamente uma hora e quarenta minutos, criado por Filomena Oliveira e Miguel Real, que sintetiza, de um modo fragmentário e diversificado o percurso pessoal e profissional de Régio, a multiplicidade dos locais, dos temas, dos desejos, das angústias, das interrogações e das paixões que acompanharam o autor ao longo da sua vida. Actor há perto de 30 anos, Jorge Sequerra confessa que “nunca me tinha interessado por José Régio” até ao momento em que os autores, amigos de Sequerra, lhe apresentaram um texto, especialmente criado para o actor pôr em cena, intitulado “O Umbigo de Régio”. Assim nasceu a peça. “Eu tentei compactar este estudo com aquilo que os actores fazem, ou seja depois de perceber a ordem tentei ir à procura da pessoa por fora e por dentro, desde os gestos ao modo de ser”, contou Jorge Sequerra. O autor, para melhor conhecer esta figura história, esteve em Vila do Conde e Portalegre, falou com diversas pessoas que conheceram Régio, viu inúmeras fotografias e todos os documentários existentes sobre o escritor. Tratando-se de um monólogo, Jorge Sequerra refere que “um dos grandes desafios deste projecto, foi para mim, fazer de um monólogo um espectáculo dinâmico, vivo e interessante”, o que na opinião do actor foi conseguido. Acrescentou ainda que considera “O Umbigo de Régio” uma representação de risco. “Eu nunca tive tanto medo na vida!”. O primeiro risco que o artista aponta é o facto de se tratar de uma figura histórica, uma vez que várias pessoas que o conheceram ao verem o trabalho podem discordar dele. Outro risco apontado é recitar o “Cântico Negro” em cena, uma vez que todos estão habituados a ouvi-lo na voz de João Villaret e o actor pode fazê-lo de modo diferente. “Foi de facto um grande susto” confessa. “O título da peça vem da famosa polémica histórica de 1939 entre o Régio e o Álvaro Cunhal”, conta o actor, referindo também que “este espectáculo é um bocadinho como mergulhar dentro do umbigo de Régio e então, descobre-se que, de facto, o umbigo dele é do tamanho do mundo e é um mundo imenso”. Nas palavras de Miguel Real, “o espectáculo não retrata a obra de José Régio, é apenas uma introdução ao seu espírito e um apelo à sua leitura. É uma declaração de amor por Régio em forma de monólogo teatral. Em digressão desde Março deste ano, «O Umbigo de Régio» "não é uma peça cronológica, segue uma lógica estética e dramática. Foi feita em cima de um estudo muito profundo à obra de José Régio e que abarca todos os géneros que ele escreveu” sublinha Sequerra. O Ministério da Cultura disponibilizou para o espectáculo cerca de 25 mil euros, sendo os restantes apoios de diversas entidades em materiais e serviços. Reservas no Centro Cultural Município do Cartaxo 243 701 600 Biografia de José Régio José Régio é o pseudónimo de José Maria dos Reis Pereira. Nasceu a 17 de Setembro de 1901, em Vila do Conde, cidade onde viveu durante a sua infância e adolescência e fez os seus estudos. Após uma estadia de dois anos no Porto, para concluir o 3º ciclo do ensino liceal, foi para Coimbra para frequentar a Faculdade de Letras. Aí se licenciou em Filologia Românica, em 1925, defendendo a tese intitulada "AS CORRENTES E AS INDIVIDUALIDADES NA MODERNA POESIA PORTUGUESA", trabalho em que foi feita pela primeira vez a apologia dos poetas do "ORPHEU". Cedo, iniciou a sua actividade literária em jornais e revistas. É de salientar a sua colaboração nas revistas portuenses "Crisálida" e "A Nossa Revista" e nas coimbrãs "Bizancio" e "Tríptico". Mas foi em Coimbra que consolidou as suas qualidades literárias, não apenas pelo intenso contacto com os livros que vieram a influenciar a sua obra, mas também pelo convívio com intelectuais que marcaram um dos períodos mais fecundos do século XX, tanto na criação como na crítica. No mesmo ano que concluiu a licenciatura publicou o seu primeiro volume de poesia "Poemas de Deus e do Diabo", usando pela primeira vez o pseudónimo de José Régio. Em Março de 1927, fundou com João Gaspar Simões e Branquinho da Fonseca, a revista "Presença" que durou treze anos e foi considerada o orgão do segundo modernismo. Concluído o Curso da Escola Normal, iniciou a carreira docente, com uma breve experiência como professor provisório no Liceu Alexandre Herculano, no Porto, até ser nomeado, em 1930, professor efectivo do Liceu de Portalegre cargo que exerceu até se reformar, em 1962. Desde então viveu alternando a sua residência entre Vila do Conde e Portalegre, até que em 1966, após doença prolongada se instalou definitivamente em Vila do Conde. Morreu a 22 de Dezembro de 1969, vítima de doença cardíaca. Trabalhador incansável, partilhou sempre as tarefas docentes com múltiplas actividades. Além da criação literária, manteve a colaboração em jornais e revistas como crítico e polemista. É de realçar o seu envolvimento político, sempre que as situações críticas da vida nacional o justificavam, mantendo-se sempre firme e frontal nos seus ideais socialistas, apesar do regime repressivo de então.
O isolamento a que por vezes se votava para a produção literária não o impedia das tertúlias dos cafés, que muito apreciava, nem dos contactos com os meios literários que mantinha através da intensa actividade epistolar. Foi ainda coleccionador empenhado de peças antigas de arte popular com as quais recheou as casas de Portalegre e de Vila do Conde, hoje abertas ao público para que se possam apreciar as suas valiosas colecções.