segunda-feira, 21 de novembro de 2005

A Portugal

Esta é a ditosa pátria minha amada. Não. Nem é ditosa, porque o não merece. Nem minha amada, porque é só madrasta. Nem pátria minha, porque eu não mereço A pouca sorte de nascido nela. Nada me prende ou liga a uma baixeza tanta quanto esse arroto de passadas glórias. Amigos meus mais caros tenho nela, saudosamente nela, mas amigos são por serem meus amigos, e mais nada. Torpe dejecto de romano império; babugem de invasões; salsugem porca de esgoto atlântico; irrisória face de lama, de cobiça, e de vileza, de mesquinhez, de fatua ignorância; terra de escravos, cu pró ar ouvindo ranger no nevoeiro a nau do Encoberto; terra de funcionários e de prostitutas, devotos todos do milagre, castos nas horas vagas de doença oculta; terra de heróis a peso de ouro e sangue, e santos com balcão de secos e molhados no fundo da virtude; terra triste à luz do sol calada, arrebicada, pulha, cheia de afáveis para os estrangeiros que deixam moedas e transportam pulgas, oh pulgas lusitanas, pela Europa; terra de monumentos em que o povo assina a merda o seu anonimato; terra-museu em que se vive ainda, com porcos pela rua, em casas celtiberas; terra de poetas tão sentimentais que o cheiro de um sovaco os põe em transe; terra de pedras esburgadas, secas como esses sentimentos de oito séculos de roubos e patrões, barões ou condes; ó terra de ninguém, ninguém, ninguém: eu te pertenço. És cabra, és badalhoca, és mais que cachorra pelo cio, és peste e fome e guerra e dor de coração. Eu te pertenço mas seres minha, não. Jorge de Sena Poema enviado por Pedro Mendonça

quinta-feira, 17 de novembro de 2005

A montanha pariu um rato

É notável o trabalho que a assessoria de imprensa do Ministério da Educação tem feito nesta legislatura! É perturbante a forma como a comunicação social, de um modo geral, publica as “novidades” do ME sem o mínimo de investigação sobre os assuntos em causa. Denuncio esta situação porque a minha pátria com 31 anos de democracia me educou na convicção de que devo exercer os meus direitos de cidadania plena e, como diz a canção “vimos, ouvimos e lemos / não podemos ignorar”.
Colocação de professores:
No início do ano lectivo – comparativamente ao ano transacto, sublinhe-se – todas as declarações foram no sentido de que os professores estavam todos colocados sem problemas. Quem anda no terreno sabe que não foi bem assim e que se passaram situações caricatas de colocar mais do que um professor para o mesmo horário e, noutra escola, não haver professor colocado. Vejam-se os jornais diários e constate-se que todos os dias há anúncios para colocação de professores de TIC (tecnologias de informação e comunicação) no 2º e 3º ciclos e professores de apoio sócio-educativo no 1º ciclo. Dificilmente estaremos a falar de substituições para universo tão alargado.
Inglês no 1º ciclo:
Cumpre-se o programa do Partido Socialista para a legislatura, quanto a mim, da pior forma. São as autarquias que, em vésperas de eleições autárquicas, cumprem o programa do governo em troca de uns prometidos cem euros por aluno. Enquanto as autarquias contratam professores para o efeito ( em alguns concelhos o Inglês ainda não começou), o Ministério paga o vencimento a professores de língua inglesa de 2º, 3º ciclo e secundário que têm vínculo mas não têm horário. Eventualmente os que não têm vínculo e não ficaram colocados recebem ou aguardam subsídio de desemprego. Resta acrescentar que o ensino do Inglês não é universal pois não é leccionado na componente curricular em regime de docência coadjuvada, pelo que as escolas de 2º ciclo irão ter sérios problemas de gestão curricular quando estes alunos chegarem ao 5º ano em situações de desigualdade.
Manuais grátis para alunos carenciados:
Uma das recentes novidades que só convence os ignorantes. Não pretendo ofender ninguém pretendo somente dizer que alguns ignoram ainda que no 2º e 3º ciclos os manuais são gratuitos para os alunos carenciados há já, pelo menos, uma década. E no 1º ciclo são já numerosas as autarquias que asseguram a gratuitidade dos manuais dos alunos mais carenciados sem qualquer compensação por parte da tutela. Onde é que está a novidade? Nos 6 anos de vigência em vez de 4? Um rato! E as editoras serão proibidas de oferecer manuais aos professores. E então, as escolas serão contempladas com orçamento para assegurar as ferramentas oficiais de trabalho dos seus professores ou estes serão obrigados a subsidiar a entidade patronal desembolsando todos os anos o preço dos manuais dos níveis que leccionam? Inédito!
Avaliação extraordinária para alunos em risco de retenção:
Li a notícia, em manchete de 1ª página, e comparei-a com o despacho regulamentar 50/2005. Algumas das medidas referidas são cópia de despacho da anterior ministra em Janeiro de 2005. Estes, por sua vez, já estavam expressos no decreto-lei 98-A (do tempo da paixão). É, mais uma vez, o baralha e torna a dar. Falam nos outros técnicos da educação ao serviço nas escolas e, entre outras medidas, na pedagogia diferenciada na sala de aula. Como posso eu investir em pedagogia diferenciada quando tenho 8 horas semanais para trabalho individual (planificação e avaliação) a dividir por 4 níveis de ensino, 6 turmas e 140 alunos? Este trabalho é para os 22 tempos lectivos em que estou com os meus alunos. Entretanto exigem-me mais 5 tempos lectivos para medidas de apoio educativo para as quais necessitaria de mais tempo de preparação. Como não tenho... Ah! Ainda temos 2 horas para reuniões (nunca chegam, a menos que adiemos trabalho ad eternum). Com isto tudo, façam as contas, são 37 horas de trabalho. Mas o pior não é isso. Trabalho de bom grado as 35 horas na escola; até levo o meu escritório ambulante de 20 quilos para trabalhar num moderno “open space” de 60 metros quadrados para 50 professores com acesso a dois computadores. Mas não digam que a falta da qualidade do ensino é culpa dos professores. Não é honesto! Elvira Tristão

Procura-se um amigo

Procura-se um amigo. Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimento, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir o que as palavras não dizem. Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaros, das estrelas, do sol, da lua, do canto dos ventos e das canções da brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar. Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja de todo impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem de ter ressonâncias humanas, seu principal objectivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoas tristes e compreender o imenso vazio dos solitários. Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer. Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações da infância. Preciso de um amigo para não enlouquecer, para contar o que vi de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças d´água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim. Preciso de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já tenho um amigo. Preciso de um amigo para parar de chorar. Para não viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que bata nos ombros sorrindo e chorando, mas que me chame de amigo, para que eu tenha a consciência de que ainda vivo. Vinícius de Moraes

terça-feira, 8 de novembro de 2005

Space - Uma Nova Fronteira

Estas são as fotos expostas em grande formato no Biombo de Luz do Centro Cultural.
3 Jovens do Cartaxo criaram a pensar neste Espaço concreto.
Interessante terem optado por auto-retratos.
Uma exposição que deixou toda a equipa do C.C.C. satisfeita também pela forma como decorreu a inauguração, com a animação no bar da mezzanine a cargo de outra dupla criativa do concelho; "Orson & Wells", que tiveram a responsabilidade da música ambiente e dos videos projectados no tecto de Betão do Bar e no vidro da varanda fechada.
Cultura Urbana, por Jovens Urbanos desta Nova Cidade de vai acontecendo!
Pedro Mendonça

sexta-feira, 4 de novembro de 2005

Eng.º Álvaro Pires: Até Amanhã Camarada

Ser eleito representa uma responsabilidade e uma honra incomparáveis na vida de um político. O ciclo político que se encerra com a tomada de posse dos novos autarcas, ficará sempre ligado à capacidade de execução de um conjunto de infra-estruturas e equipamentos sociais que elevam, de forma substancial, a qualidade de vida dos nossos concidadãos. Mas as circunstâncias ditaram, de igual modo, que fosse este o momento em que o Eng.º Álvaro Pires interrompe (quero acreditar que será uma pausa para retemperar energias) a sua participação política em órgãos autárquicos. Ouso afirmar que ninguém, nas últimas décadas, marcou, persistentemente, de forma tão profunda a vida política do concelho do Cartaxo. Dotado de invulgar capacidade de diálogo e de pluralismo, o Eng.º Álvaro Pires é um humanista, um homem universal, com uma cultura de participação e abertura ao que é diferente e novo, curioso de tudo, um homem que ama a vida, que estimula o conhecimento, um homem de liberdade. Tenho o grato prazer de tê-lo como amigo e de termos estendido, essa amizade, ao convívio das nossas famílias. Sou um grande admirador da sua personalidade e, tenho para mim, que teve, tem e terá sempre uma grande influência na minha forma de "fazer" política. Afirmo com orgulho que somos companheiros, camaradas das mesmas causas. Compreende-se, por isso, que na última reunião de Executivo Camarário, desde os eleitos do PS ao PSD, todos lhe tenham manifestado o reconhecimento e a homenagem pela forma exemplar com que sempre desempenhou as suas funções políticas. Sublinho a elevação do gesto dos eleitos do PSD, na homenagem que foi efectuada - oferta de uma medalha ao Eng.º Álvaro Pires - comprovando que o reconhecimento pela sua actividade política ultrapassa as fronteiras do PS, partido que, na condição de independente, sempre representou.

quinta-feira, 3 de novembro de 2005

Escola Secundária do Cartaxo - Preparação das Comemorações dos 25 anos

Hoje reuni, na Escola Secundária do Cartaxo, com o seu Conselho Executivo. Em cima da mesa, a preparação da sessão solene, comemorativa dos 25 anos de actividade da Escola, que irá decorrer no próximo dia 17 de Novembro, e, ao que tudo indica, será presidida pela Sr.ª Ministra da Educação, Doutora Maria de Lurdes Rodrigues. Desta reunião destaco, no actual contexto "conturbado" em que vive a área da educação, o entusiasmo do Conselho Executivo para que, nestas comemorações, a Escola Secundária do Cartaxo reforce, junto da comunidade, a qualidade do trabalho ali desenvolvido e o esforço, que me foi dado testemunhar, em favor de uma escola multicultural que prepara os seus alunos para os novos desafios da sociedade. Os problemas da escola resolvem-se dentro e fora da escola. A escola deve estar ao serviço da sociedade. Mas a sociedade também deve estar ao serviço da escola. São necessárias mais presenças à volta da escola: das famílias, das instituições, das empresas, dos poderes locais.
Penso que o nosso futuro depende desta rotina institucional, deste trabalho diário, quase sempre invisível, na área educação.

quarta-feira, 2 de novembro de 2005

Ideias Cultura

Caro Dr. Pedro Ribeiro,
Espero que este seu blog consiga ser também um encontro de ideias. Sendo um dos responsaveis pelo Centro Cultural do Cartaxo, e sendo esta a área por mim mais reflectida, deixo-lhe 5 ideias soltas:
1. Como e bem expôs Felicidade Rodrigues também a mim me parece essêncial que o C.C. esteja em interligação directa com as escolas do concelho, seria interessante e eficaz a criação de um Conselho Consultivo para os Serviços Educativos, onde estivessem representados professores designados pela Escola representando os vários agrupamentos, um responsável pela area social municipal (proponho a Drª Helena Montez), o Sr. Vice-Presidente, 2 ou 3 individualidades municipais ( das areas cultural, social, de saúde ou mesmo da politica) convidadas pela Câmara e claro eu próprio pelo Centro Cultural. Com este conselho combateríamos qualquer acesso autista ao nível da programação que a equipa por mim coordenada possa ter.
2. Criação de elos entre o Centro Cultural e o Museu Rural e do Vinho, nomeadamente na area dos Serviços Educativos, através de Porgramas conjuntos.
3. Continuação do investimento na criação de novos públicos, tendo consciência que o sucesso que o Centro tem tido ao nível de espectadores pode sofrer abalo quando necessariamente se começarem a correr riscos ao nível de espectáculos mais vanguardistas e urbanos. Parece consensual que o público urbano tem sido o mais ostracizado no últimos anos na nossa cidade,pelo que podendo não ser o mais numeroso, nos merece o máximo respeito por acreditarmos que é aquele que maior crescimento terá nos próximos anos. Há também que realçar neste campo, que os vanguardadistas de hoje serão os clássicos de amanhã!
4. Criação de Protocolos para apoiar o ensino artístico no Concelho, ao nível da música, dança e teatro, com Orquestra Metropolitana de Lisboa (ou estrutura similar), Teatro da Trindade/Inatel e cine-teatros nossos parceiros na ArtemRede.
5. Temos também de comemorar de forma digna, erudita e popular Marcelino Mesquita em 2006 e com ele o concelho e sua história. Assim parece-me que a melhor forma de homenagear um dramaturgo é levar à cena as suas peças. Neste âmbito também, a sua vida e correspondência poderão ter tratamento por parte de um historiador local. No âmbito da história do concelho, encontra-se o Centro Cultural a liderar um projecto com os Dr's Rogério Coito e Miguel Leal em que se sistematiza a história local de forma a puder ser entendida pela generalidade da população. Poder-se-ia também avançar já com uma ideia sua, de dotar as escolas do concelho com uma história local uniformizada e despida de lendas, podendo estas ser dadas como tradição oral e não como história que efectivamente não é.
Como prometido apenas ficaram 5 ideias, mas se pretender mais poderão ir surgindo neste espaço que faltava, é sempre grato ter com o vereador um canal de comunicação livre de protocolos e burocracias, apenas com o intuito de pensarmos colectivamente a nossa terra.
Obrigado e bem-haja.
Pedro Mendonça